PATOLOGIAS Braquimetatarsia

A braquimetatarsia é uma doença que se caracteriza pelo encurtamento de um ou mais metatarsos.

Pode ocorrer em um dos pés ou em ambos ao mesmo tempo. Em alguns casos encontramos mais de um metatarsos acometido no mesmo pé (não muito comum).

Mais comum de ocorrer no 4° metatarso, seguido pelo 5° e 1° metatarsos.

Bilateralidade (ambos os pés acometidos) ocorre em 72% dos casos.

Causas

Acredita-se que a causa da braquimetatarsia seja o fechamento prematuro da zona de crescimento do metatarso. Quando ocorre o fechamento desta zona de crescimento o osso para de crescer não atingindo o seu tamanho final esperado.

A etiologia de um metatarso curto pode ser congênita ou adquirida.

Congênitas

Síndromes sistêmicas, endocrinopatias e displasias.

  • Síndrome de Down;
  • Síndrome de Turner;
  • Síndrome de Apert;
  • Osteodistrofia de Albright.

Adquiridas

  • Trauma;
  • Infecção;
  • Tumor;
  • Doença de freiberg;
  • Radiação;
  • Cirurgias prévias;
  • Anemia falciforme;
  • Displasia epifisária múltipla;
  • Osteocondromas hereditários múltiplos;
  • Artrite reumatoide juvenil.

Sintomas

  • Dor;
  • Comprometimento functional;
  • Calosidades;
  • Aparência do pé (Estética).

A maior procura por atendimento é por parte das mulheres e a maior queixa é a aparência dos pés (estética).

As fuguras abaixo mostram o dedo que articula com o metatarso envolvido deslocado dorsalmente no antepé ficando sujeito a trauma e pressão dentro do calçado

Braquimetatarsia
Braquimetatarsia

Grande parte dos pacientes relata um certo descaso em relação ao seu problema por parte dos profissionais de saúde, isto ocorre por se tratar, na maioria dos casos, de uma queixa estética e não funcional, não causando prejuízo de mobilidade ou dor ao paciente. Nesta situação devemos avaliar o paciente como um todo, pois muitos apresentam sofrimento psicológico chegando a passar a vida toda sem utilizar calçados abertos.

Ao indicar um procedimento para reestabelecer o comprimento do metatarso  não estamos pensando somente na questão estética, estamos pensando, também, na parte psicológica do paciente.

Vale salientar que em vários casos o procedimento é realizado para melhora da dor e funcionalidade do pé.

Tratamento

Correção em Tempo Único x Distração Osteogênica (Alongamento Ósseo).

Correção em Tempo Único (Correção Aguda)

Realiza-se um corte no metatarso e este é alongado de forma agua entre 1cm e 1,5cm e preenchido com enxerto ósseo retirado do próprio paciente. Normalmente o enxerto é retirado do ilíaco do paciente.

Desvantagens

  1. Pequeno ganho de comprimento;
  2. Risco elevado de danos neurológicos e vasculares;
  3. Necessita de procedimento adicional para retirada de enxerto gerando cicatriz e morbidade ao paciente.

Distração Osteogênica (Alongamento Ósseo)

Realiza-se a montagem de um mini fixador externo no metatarso curto e realiza-se um corte no osso. Espera-se 5 dias e após inicia-se o alongamento gradual de 0,5mm/dia até atingirmos o comprimento desejado.

Vantagens

  1. Bons ou excelentes resultados – 80 a 100%. - DO;
  2. Não necessita de enxerto (menos morbidade para o paciente);
  3. Tendão é gradualmente esticado;
  4. Complicações neurovasculares menos freqüentes;
  5. Liberação de carga inicia mais breve;
  6. Mais alongamento é possível.
Alongamento em Braquimetatarsia

Fonte: Orthofix

Quem é candidato?

Os candidatos necessitam estar em boas condições de saúde, não ser tabagista, não ser alcoolista, apresentar completa maturidade óssea e ser psicologicamente estáveis.

Quanto tempo de tratamento?

Após a cirurgia aguardamos 5 dias até iniciarmos o alongamento, chamamos essa fase de período de latência.

A velocidade de alongamento do metatarso é de 0,5mm por dia.

2 cm = 40 dias + 5 dias de espera (período de latência) até iniciarmos. Total de 45 dias.

Depois temos que esperar a ossificação do osso neoformado, que leva em média 2 meses para cada centímetro alongado. Tempo total do tratamento é de 4 meses. Devemos sempre lembrar que estes valores podem variar para mais ou para menos dependendo das condições de saúde do paciente, idade, estilo de vida, dieta entre outros fatores.

Precisa usar muletas, cadeira de rodas ou alguma órtese após o procedimento?

Quando o procedimento é realizado bilateralmente em tempo único é necessário o uso de cadeira de rodas no pós operatório.

Quando realizamos cirurgia em um único pé, será necessário o uso de duas muletas inicialmente evoluindo para o uso de uma muleta e sandália de Baruk. Após esse período retiramos as muletas mantendo a sandália.

O momento para liberação da carga total ou parcial do corpo sobre o pé operado depende da evolução da consolidação óssea. Tal consolidação é avaliada através de radiografias seriadas.

Riscos do procedimento

Importante ressaltar que complicações possuem suas taxas de ocorrência reduzidas tornando-se raras quando o procedimento for realizado por especialista da área de Reconstrução e Alongamento Ósseo e caso ocorram podem ser corrigidas com cirurgias adicionais ou uso de medicamentos.

  • Rigidez articular: Durante o período de alongamento realiza-se a fixação temporária da articulação metatarso falangeana. Após esse período esta articulação pode apresentar rigidez. Realiza-se fisioterapia intensiva neste período buscando reestabelecer a mobilidade.
     

  • Atraso na consolidação do regenerado ou não consolidação: A qualidade do regenerado depende de vários fatores e da capacidade de cada pessoa de cicatrização. Estabilidade do fixador, grau de preservação da circulação óssea no foco da osteotomia, adequada velocidade do alongamento ou da correção da deformidade, alimentação adequada, consumo de bebidas alcoólicas ou tabaco, níveis de vitamina D séricos.

    Em casos de falha na consolidação do regenerado, cirurgia adicional para utilização de enxerto ósseo pode ser necessária.
     

  • Deformidade: Durante o alongamento ósseo o regenerado pode apresentar alguma tortuosidade, entretanto raramente isso é visível clinicamente, aparecendo somente nas radiografias sem causar prejuízos para o paciente. Nas situações em que esta tortuosidade for muito exagerada procedimentos adicionais para corrigi-la poderão ser necessários.
     

  • Consolidação precoce do regenerado: Pode ocorrer quando existe uma excessiva demora em iniciar os ajustes do fixador externo. O período médio de espera é de 7 a 10 dias após o procedimento, sendo que um atraso muito grande nesse tempo pode levar a consolidação precoce. Tal complicação também pode manifestar-se quando a velocidade do alongamento está muito lenta, ocasionando a consolidação antes de o osso atingir seu comprimento desejado.  A realização de radiografias seriadas nos mostra a qualidade do regenerado e indica a necessidade de aumentar ou diminuir a velocidade do alongamento ósseo.  

    Caso ocorra necessitará de procedimento de osteotomia adicional para continuarmos o alongamento.
     

  • Fratura do regenerado ósseo: Para saber a hora de retirar o fixador externo, as radiografias devem mostrar corticalização do regenerado ósseo. Em situações em que a corticalização não está bem definida será necessário utilizar muletas após a retirada do implante.
     

  • Quebra de fio ou pino: Complicação comum, sendo que quando isso ocorre devemos reposicionar o fio ou pino quebrado para não ocorrer a perda da estabilidade do fixador externo.
     

  • Dor: Apesar de visivelmente o fixador externo aparentar causar muita dor a experiência dos pacientes contradiz essa ideia.

    Costumamos dizer que o fixador externo dói mais para quem vê do que para quem sente.

    A dor pode ocorrer em qualquer fase do alongamento sendo na fase das regulagens mais frequente, pois vai criando tensão na pele próxima aos pinos. A dor está mais relacionada com a má higiene da interface pino e pele ocasionando uma inflamação local, levando a dor. O grau de dor varia de paciente para paciente, sendo que o estado emocional e os cuidados com o fixador influenciam bastante. Quando um pino ou fio começa a causar dor de difícil controle uma das alternativas é retirar e reposicionar o mesmo.
     

  • Infecção no trajeto do pino: Infecção do trajeto do pino é uma complicação frequente, entretanto raramente evolui para osteomielite (infecção óssea). O paciente deve ser orientado que tal complicação na região dos pinos é frequente e pode ocorrer mais de uma vez ao longo do tratamento.

    É importante durante o tratamento manter os pinos e o fixador higienizado criando uma rotina diária para isso. Na vigência de uma infecção na interface pino pele o tratamento é repouso, antibiótico (via oral ou tópico) e em alguns casos, a remoção do pino está indicada. Em caso de infecção resistente o paciente poderá necessitar de antibiótico endovenoso.
     

  • Subluxação da articulação metatarso falangeana: Pacientes que necessitam de grandes alongamentos estão mais suscetíveis a luxação da metatarsofalangeana. Reequilíbrio muscular e passagem de pino através da articulação metatarso falangeana são importantes adjuvantes para evitar a subluxação durante o alongamento ósseo.

Atenção!

Importante lembrar que mesmo sendo um procedimento estético o mesmo deixará cicatrizes, sendo que estas poderão ser minimizadas posteriormente com cirurgias plásticas.

Complicações são mais frequentes nos metatarsos alongados > 40%, entretanto sem repercussão no tratamento.


Referências:
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Dr. Ricardo Girardi CREMERS 34650
RQE 28690

Saiba Mais

ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA
RECONSTRUÇÃO E ALGONGAMENTO ÓSSEO

Possui graduação em Medicina pela Universidade Luterana do Brasil (2010), especialista em Ortopedia e Traumatologia, com ênfase em Cirurgia Ortopédica e Traumatológica e especialização em Reconstrução e Alongamento Ósseo pelo CERO (Centro de Excelência em Reconstrução Óssea) Curitiba - PR, serviço chefiado pelo Dr. Richard Luzzi.

Membro da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia).

Membro da ASAMI (Associação para Estudo e Aplicação do Método de Ilizarov).